
Não deixa de ser curioso ou mesmo aterrorizante quando os papeis que estamos habituados a desempenhar são invertidos.
Durante os últimos quatro anos, fui habituada a estar dentro da farda branca. Hoje o meu papel foi diferente, dirigi-me àquele hospital para ser a doente,a paciente, a utente ou ainda mais chique...a cliente. Bem, como não era o Hospital da Luz os pormenores chiques ficaram do lado de fora do portão...começando logo com lugar para o carro, terra batida ao pé de uma curva que não me inspirava grande confiança.
Tudo correu naturalmente até chamarem pelo meu nome...quer dizer...depois disso também tudo foi natural...
Após a chamada dirigi-me para a porta do consultório onde a senhora enfermeira voltou a chamar pelo nome para automáticamente me fechar a porta sem dizer qualquer outra palavra...tudo bem...sou só mais uma doente no meio de uma imensa lista, dei meia volta ao salto e fui-me encostar a uma parede que tinha um quadro exposto que nada tinha a ver com o local onde estavamos.
Depois de conseguir finalmente o meu visto para o consultório, deparo-me com um espaço pequeno mas dividido em duas partes por umas cortinas. Lá dentro estava a médica, a enfermeira, a auxiliar e a adminstrativa..."que recepção" pensei...Dizer Bom dia? para quê? ...Afinal sou só mais uma paciente. Fui encaminhada para a segunda divisão do consultorio onde estive à vontade 10 min. a ouvir a história de vida de uma outra administrativa que entretanto também se juntou ao monte.
Do fundo da sala, ouço a médica a perguntar-me "está bem disposta?" ao que respondi "podia estar mais, se nao estivesse aqui!", quer dizer...não passou de um pensamento porque o telefone tocou, a médica falou e a segunda administrativa saiu despedindo-se de toda as pessoas presentes...quer dizer...de todas menos de mim...afinal sou só mais uma utente...
E eis que, a médica consegue arranjar um tempinho para mim...mas 1 minuto depois de termos começado a falar o telefone toca...ele atende...dá umas quantas gargalhadas e desliga...
Após consulta médica realizada, a excelentissima enfermeira dirige-se então pela segunda vez a mim (relembrando que a primeira foi para dizer o meu nome), referindo que após sair do consultorio devo retirar a senha D para ir pagar a consulta...de facto aqui senti-me uma verdadeira cliente...o eurozito dá sempre jeito e por isso é importante não esquecer.
Tudo o que eu não quero ser
São estas situações que nos fazem pensar e tomar a decisão de sermos enfermeiros diferentes dos outros. O espirito altruista é suposto estar intrinseco na nossa profissão mas infelizmente para alguns de nós isto é uma verdadeira utopia. Eu acredito e tu também por isso, temos que fazer o nosso papel e sermos "peças" de mudança.
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