domingo, 21 de fevereiro de 2010

Eddie Vedder no seu melhor, como não poderia deixar de ser...

Quase sem palavras...Muito Bom

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A tremelicar de frio, cá estou eu bem enroladinha a um cobertor a ver se algo me aquece...o ideal seria que o filme que estou à espera para ver já estivesse disponivel, mas como não está lembrei-me de passar por aqui.
Ontem foram 16h de trabalho penosas, não fossem elas as últimas 16h antes de ir para umas férias improvisadas.
O dia teve vários momentos marcantes, começando desde cedo com...bem não interessa...apesar de dar valor a todos os pormenores, há alguns que neste momento precisam de ser ignorados e de forma urgente.
11h dirigi-me a um doente pela primeira vez no turno...o motivo para ele estar ali presente: neo do colon metastizada para os pulmões e cérebro. Tinha estado com o doente num turno anterior e antes que ainda tivesse oportunidade de o conhecer já o "Edmundo" a meio da passagem de turno me dizia "este senhor vai morrer".
Já não estava ventilado, comunicativo, consciente e orientado. Depois de meia duzia de troca de palavras comecei a perceber que era o tipico doente que não poderia dar grandes confianças. E terminei o meu turno da manhã sem me aproximar muito mais dele. Durante a tarde as coisas começaram descambar...ele gritava que lhe doia o pulmão e ao mesmo tempo desaturava rapidamente até aos 68%...indicação médica: não fazer mais nada, sem indicação para ventilar ou investir...Mas se de um lado estava a fria realidade, do outro estava um homem com falta de ar, a morrer e o pior de tudo para mim...consciente.
Voltei para junto dele e depois de umas quantas manobras com o intuito de aumentar as saturações periféricas e o deixar o mais confortavel possivel, o homem diz-me "estou cansado, sinto que estou a ir..." e eu sabia que ele não estava a dizer isso só por dizer, expliquei-lhe que já lhe tinhamos dado um calmante e que isso também ajudaria a estar mais sonolento. Agarrou-me na mão e era ele que desta vez me fazia festas na mão. Desfeita por dentro, acho que lhe consegui transmitir alguma da confiança que ele precisava naquele momento...pelo menos foi o melhor que naquele momento eu consegui dar. Em jeito de brincadeira dizia que eu tinha os olhos bonitos, quando na realidade é ele que tem uns olhos verdes radiantes, e ainda com 72% retirava a mascara de alto debito para me mandar beijos, quase com motivos para me chatear com ele...mas não consegui.
Em alguns momentos em que estive com ele, deu-me a sensação (possivelmente estupida sensação) que ele conseguia perceber muito mais do que aquilo que eu aparentemente lhe demonstrava. Ao escrever estas palavras passadas sinto que muita coisa ficou por escrever e muita coisa por fazer e para lhe dizer.
Acho que vou ter de pensar nisto durante uns tempos...dúvido que ele esteja lá daqui a uma semana...mas acho que também seria egoísta se desejasse isso.

As tardes intermináveis que tenho feito têm-me também ajudado a lidar melhor com os familiares...quando um familiar pergunta a um enfermeiro como o seu ente querido está, odeio a tipica frase "está igual a ontem" quando na maioria das vezes isso não é verdade e mesmo que o seja há sempre muito mais para dizer do que apenas isso.
Sem pensar muito verifiquei que passei quase o momento todo da hora das visitas junto aos doentes e aos familiares...isto é suposto, mas nem sempre acontece e até porque há que ter a sensibilidade de perceber quando a nossa presença é desejada e não viola os poucos minutos de privacidade que aquelas pessoas. No final da última visita uma familiar de uma doente que está lá há mais de um mês disse-me "sabe, gosto muito quando a senhora enfermeira está aqui." Mais um alento para querer fazer sempre mais e melhor. Gosto mesmo que aqueles familiares saiam dali mais aconchegados e que quando estiverem a fazer mais não sei quantos quilometros de regresso a casa sintam que realmente valeu a pena lá terem ido...e isso não depende apenas do doente (just my opinion).

Depois das ditas 16h de trabalho ainda passei pelo quartel...e que diferente que está. Levei logo com um daqueles abraços do chefinho que sabem sempre muito bem e com a paciencia de sempre do galã lá do sitio (para mim) para me mostrar as novas instalações e me mostrar as novas viaturas. Novas ambulâncias totalmente remodeladas, e os carros de fogo...Entrei no VEFI para recordar...uma roda daquele carrinho chega-me ao ombro...que saudades...os ARICAS...o cheiro...até os bancos...fartaram-se de rir por minha causa, eu estava de facto em extase. Entretanto lá chegou o meu Moldavo, igualizinho ao de sempre que me deu um abraço daqueles de tirar os pés do chão...e eu bem que estava a precisar depois de um dia destes...Lá voltámos às palhaçadas e recordámos uns bons momentos.

Para completar o dia, ainda tive direito a uma conversa que não sei se foi boa se foi má...mas não me parece que tenha sido muito boa...de qualquer forma o tempo o dirá.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Nem mais...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010


Ontem, divagando aqui pela internet, fui ter a um blog de determinada pessoa que dedicava um post do seu blog à passada greve dos enfermeiros, referindo-se em algumas circunstancias a estes profissionais de saúde de forma menos apropriada. Tipica pessoa que pensa que sabe tudo mas que na realidade nada sabe.
Depois de me dar ao trabalho de ler o dito post cheguei à conclusão que o jovem não faz a minima ideia do que é ser enfermeiro. Lembrei-me portanto de relatar um dos meus dias enquanto enfermeira aqui no meu blog e deixá-lo à disposição de dita pessoa para que se o entender ler fique pelo menos ligeiramente esclarecido.
Sem pensar muito reflicto no dia de hoje...
Chegada ao serviço 7h30, fardei-me e entrei na unidade perto das 8h para receber o turno. Antes ainda tive tempo de olhar para a destribuição de doentes, quando referi as camas que me tinham calhado os meus colegas do turno anterior só me disseram "prepara-te". A doente que tenho vindo a acompanhar estava pior e tinha sido novamente ventilada.
Depois da passagem de turno, olhei para a medicação que tinha de dar e fiz uma selecção daquilo que poderia dar ou não, logicamente que por exemplo um perfalgan E.V a uma doente hipotensa não daria bom resultado.
De seguida dediquei-me à prestação de cuidados de higiene, que segundo alguns é simplesmente "lavar cus", para mim é um momento que mexe não só com a intimidade da pessoa, como também com a sua dignidade e quando se trata destes dois aspectos chega a ser ofensivo colocar esta prática nos termos anteriormente referidos. Basta que cada um pense como um doente, deitado numa cama limitado dependente de um estranho para estar cuidado...mas para alguns imaginar isto é de facto dificil, a arrogância e o sentirem-se donos da palavra cega-os...
De um lado tinha a doente hipotensa, ventilada e em anúria. Do outro lado tinha um doente hipertenso e completamente desorientado. E era eu que estava ali junto deles...
A doente hipotensa, fez dopamina, dobutamina, aumentou as perfusões, parou a dobutamina, inicio noradrenalina, fez furosemida, parou noradrenalina, iniciou novamente dobutamina, fez mais umas quantas formulas de furosemida...fez um ECG, fiz-lhe uma lavagem vesical, colhi sangue, fiz colheita de secreções, auxiliei no rx, voltei a colher sangue, coloquei-lhe uma transfusão sanguinea, fiz-lhe a medicação habitual, vigiei sinais vitais,coloquei uma gelofundina, vigiei débitos urinários, e ainda assim tive tempo de estar com ela dar-lhe a mão que ela agarrava insessantemente não querendo que eu a deixasse ali sozinha.
No meio de tudo isto, ainda tinha o outro doente, com a tensão sempre instavel a precisar permanentemente de vigilância, a retirar acessos, oxigénio a querer levantar-se da cama ligado a uma serie de maquinas...
Depois de tudo isto termino o meu trabalho depois da hora prevista, porque ainda há registos para fazer porque essa não era a prioridade.
Trata-se de um simples resumo de um dia...na realidade as coisas custam bem mais do que estar aqui sentada a escrever estas palavras, lidamos com vidas que estão muitas vezes dependentes dos cuidados que lhes prestamos, mas estas coisas às vezes só são percebidas quando são sentidas na pele. Espero que o tal poeta não precise de tal coisa para ter pelo menos uma breve noção do que é afinal a enfermagem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Visita ao Consultório



Eu a pensar que seria a última consulta...pelos vistos parece que não. Depois de uns quantos conflitos com o computador e com o programa a ele associado a senhora doutora sempre conseguiu chegar ao resultado das minhas últimas análises. Hemoglobina de 12.8, fantastico...claro que tinha que vir a gracinha de eu ser branca como a cal e de a minha querida hemoglobina não corresponder às expectativas que toda a gente tem em me diagnosticar uma anemia assim que olham para mim. PCR negativa e o resto não tive perspicácia para ver, pois o sono que se abatia sobre mim às 11h depois de uma noite em branco fez com que me desligasse por instantes daquele consultório.
Fechou então o programa das análises e eu a pensar...no minimo mais 10 minutos para abrir o resultado do rx e vou-me embora. Bem...isso era o que eu imaginava, a luta com o computador e com o programa deve ter durado uns 20 minutos, onde a senhora doutura teve tempo de ler o meu historial completo e ainda assim ficar uns quantos minutos a olhar para o computador parado a processar a informação. Depois de uma longa espera, lá apareceram os meus pulmões no dito monitor. Eu já os tinha visto antes e sinceramente pareceram-me iguais ao de sempre, mas a doutura ampliou e reduziu a imagem umas quantas vezes, andou para cima e para baixo mais umas tantas até me conseguir deixar ficar preocupada. Lá sussurou algumas coisas que eu não percebi e apontou para umas manchas e lá disse um nome para aquilo para no final me dizer que estava tudo bem, mas...repete rx daqui a 6 meses e lá me alertou para uns quantos sintomas que caso tivesse deveria ir logo ter com ela. Estou feita com isto...para além de agora me obrigar a perceber o que a fez andar para trás e para a frente com o rx...ainda tenho que repetir outro. Isto não há cabeça que memorize tanta coisa para fazer daqui a meio ano.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Benção dos Caloirinhos



Dia da benção dos meus caloiros...como é possível?! O tempo passa e passa muito rápido, ainda no outro dia eram as "bestas" e hoje já são "os senhores enfermeiros". Depois destes 4 anos, sem dúvida que cresceram imenso, no outro dia ao ouvir a minha caloira a falar fiquei parva, é que está mesmo diferente. As voltas que a vida dá obrigam-nos a crescer e amadurecer, pelo menos para a generalidade das pessoas.
Até a minha neta é dos elementos mais antigos da Tuna...pior (ou melhor) já está no 4º ano...aí...não posso pensar muito nestas coisas :)
A benção foi engraçadinha e deu para rever algumas pessoas que há muito não via, dar umas quantas gargalhadas e esquecer-me de almoçar antes ir trabalhar :s Tive que me vingar no jantar de sushi que encomendámos...à falta de melhor tem que se encher a barriga com alguma coisa...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010



24 aninhos feitos com direito a trabalhar de 31/01 para 1/02.
Entrada às 22h30, cheguei cedo mas consegui ser a última a fardar-me e a entrar dentro da unidade graças à Maggie que me desencaminhou.
A passagem de turno deve ter demorado uns 10 minutos...com 4 doentes na unidade e felizmente a maioria estavel os senhores enfermeiros estavam em paz :) - efeitos ainda da greve e da adesão de 100% que se fez sentir não só na unidade como no bloco.
As 23h o "Edmundo" passa sorrateiramente atrás de mim e diz "Já só falta uma hora...". Passados uns momentos de descontracção...o pessoal da tarde foi-se dispersando até sairem da unidade.
Fui ver como estava a minha doentinha...a minha unica doente atribuida, a unica ventilada, a que eu tenho acompanhado desde a sua saída do bloco da urgencia. Fiz-lhe a primeira avaliação, troquei uns sistemas e fui até à nossa sala de pausa quando...estava tudo reunido, uns para sairem, mas outros firmente estacionados para se manterem lá por tempo indetermidado, "Maggie" e "Edmundo" desta feita.
Informaram-me portanto serenamente que iam ficar até à meia noite para comerem o bolo que eu tinha levado e que por sinal era lindo :)
Tomei a liberdade de me ausentar do serviço com eles por uns momentos eis quando vejo a "Fifi" a juntar-se a nós...Eu não podia acreditar, a moça saiu de casa em Alverca para vir passar a meia noite comigo...sem palavras...
Ainda tive tempo para ter uma conversa com o "Edmundo" sobre pediatria e crianças só para não me esquecer do quanto elas me fazem bem...e pelos vistos a ele também... Como não podia deixar de ser o mar e a natação também entraram na conversa.
Chegada a meia noite, chamei os meus colegas que trabalhavam (enquanto eu estava na palhaçada) para virem comer o belo do bolo. Não esperava era ter direito à famosa musikinha de parabens concluida com o barulho de uma garrafa a abrir...eles não se esqueceram de nada...
No final tive ainda direito a prenda, mas a maior prenda foi sem duvida sentir os efeitos da amizade que estamos todos os dias a construir, não há nada que pague e não há palavras dignas de descrever o que é esse sentimento.
Regressei à unidade à 1h pronta para trabalhar...correu tudo muito bem e até a minha doente me presenteou, mexeu as pernas como eu já há muito tempo não via fazer.

Ele tinha razão...não havia ondas mas a praia estava simplesmente maravilhosa e os pormenores fizeram toda a diferença.

De realças a prenda dos meus pais que eu nem tenho coragem de referir o que foi, apenas dizer que me vai dar muito trabalho...