Desci pela enfermaria, percorri um corredor meio sombrio e lá cheguei à pediatria.
Ele estava no mesmo quarto a ver o jogo do Brasil e da Coreia do Sul. Entrei no pequeno quarto e fui logo recebida com aquele grande sorriso. Ao ver que ele estava a ver o jogo,perguntei-lhe se queria que me fosse embora e voltasse depois "Não, não" respondeu ele com os olhos arregalados. Instalei-me numa cadeira ao lado dele com vários avisos da sua parte para não bater com a cabeça na janela que estava aberta enquanto desempedia a cadeira que tinha não sei quantas coisas em cima para me sentar...aqueles quartos são mesmo minusculos. Sem contar com a criança no quarto cabem mais 2 pessoas, desde que fiquem estaticas no mesmo lugar.
Estivemos mais de 1h30 a jogar UNO e a conversar, mas pareceu que não tinham passado mais de 15 min.
Ao contrário do ultimo internamentos que eu tinha presenceado ainda como aluna, ele ficou muito mais conversador. No inicio desse internamento, só conseguia "arrancar" dele "sim" ou "não" como respostas às minhas perguntas. Ele estava mesmo deprimido. Tivemos algumas peripécias nessa altura, e foi também aí que depois de ter quebrado o "sim" ou "não" comecei a ficar mais próxima dele. Uma vez, estava eu a fazer manhã e fui até ao quarto para o levar para o banho "aí não...eu tomei banho ontem" disse-me "não sejas mentiroso, eu sei que não tomaste nada banho, só te lavaste aqui com um alguidar". Estava dificil de o convencer mas a minha orientadora dizia "não! ele hoje tem que tomar banho". A muito custo e com ele muito contrariado lá fomos nós com o oxigénio atrás. Como ele ainda se aguentava momentos sem oxigénio, retirei-lhos enquanto ele foi para o duche...mas aquele duche estava a ser interminavel "Edu...já está bom, vamos embora" dizia-lhe. "Ai que isto está tão bom..." respondia-me. "Deves estar a brincar! para quem não queria tomar banho agora não queres sair daí!anda que já estás a ficar cansado e a precisar de oxigénio". Quase que me tive de meter debaixo de água para o tirar de lá e o que nós os dois nos rimos naquela casa-de-banho...
Mais de um ano passado ele ainda se lembra deste episódio e de outros.
Ele adora animais, mas a caminho dos 16 anos nunca foi ao jardim zoologico. Disse-me o que queria ser quando fosse mais crescido.E debatemos assuntos importante como o que se pode fazer com internet.
Perguntei-lhe como ia a escola...deixou de ir a escola...a professora vai lá a casa...menos um motivo para sair de casa...mais um motivo para ficar confinado a quatro paredes...
As saturações estavam na ordem dos 90% com oxigenio a 2 l/min permanente...o que é uma victoria.
Adorou mexer no meu touchscreen e deu-se muito bem com aquilo, apesar dos dedos lhe conferirem menor minunciosidade devido à doença.
O meu despertador tocou a avisar que estava na hora de eu ir trabalhar, "já vais?!" perguntou-me "sim!", mas não houve hipotese sequer de o ver triste porque comecei a puxar por ele a cantar a musica do despertador "HAKUNAMATATA....é tão facil dizer..." começou logo a rir-se e com aquela alegria toda, tivemos direito a ouvir a musica duas vezes...
Para hoje está reservada a continuação do debate sobre a internet, mas com documentos que facilitem a decisão sobre qual a melhor.Tabém está reservada uma massagem com creme pelo corpo. Tem a pele toda seca e não deixa que ninguém lhe coloque creme...espero tê-lo convencido...veremos...
Queria leva-lo ao jardim zoologico...
quarta-feira, 16 de junho de 2010
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